A primeira vez que viajei pelo Rio Amazonas fiquei encantada. Não tem como expressar de outra forma a nossa passagem pelas águas mansas que ora as margens estão longe e ora estão perto, como se fosse uma rua estreita onde podemos ver a vegetação e os animais tão próximos que dá vontade de sair do navio e passear pelas margens protegidas pela sombra das enormes árvores centenárias. Eu ficava horas admirando cada planta diferente que via, cada pássaro, cada árvore e cada som que ouvia vindo da mata. A medida que navegamos por esse trecho do rio ficamos com a respiração presa por tanta beleza. As casinhas à margem são raras e eu ficava pensando, imaginando como seria viver ali, totalmente isolados do mundo, sem vizinhos, sem viver em comunidade, sem opções de lazer e sem recursos nenhum. Como seriam essas cabecinhas que vivem ali O que pensam? O que esperam, e será que esperam? E na hora da doença? E no Natal e Ano Novo? Alheios a tudo o que vivemos aqui. É uma coisa bem curiosa, ao mesmo tempo que ali seja um lugar que transmite paz há uma sensação de vazio.
Foto: site verdejva
Quando passei por esses lugares a primeira vez eu tinha apenas 12 anos de idade. Fomos conhecer Manaus, numa viagem de seis a sete dias, saindo de Belém e subindo pelo Rio Amazonas. O navio era grande, se chamava Leopoldo Peres. Com vário tipos de camarotes ao gosto dos passageiros e de acordo com seu bolso. As refeições eram feitas em um grande salão, com mesas compridas e bem arrumadas, servidas por garçons. Havia uma sala de jogos, onde as pessoas se reuniam para bater papo e jogar cartas ou dominó. Tinha também um bar e lanchonete. Fora isso, só os corredores que davam acesso aos camarotes e a parte dianteira do navio nos davam ótima visão dos lugares por onde passáva-mos.
Ao entrar-mos em um determinado lugar, chamado de estreito de Breves, tivemos uma surpresa! Ouvimos alguns gritos: - Úuuu, Úuuu, Úuuu...! As pessoas começaram a correr para ver do que se tratava. Então começamos a avistar canoas se aproximando do navio. Minúsculas, com pessoas manobrando com muita habilidade. Algumas tinham crianças bem pequenas, de colo. Outras tinha mulheres grávidas. Sem entender muito bem o porque daquelas pessoas estarem ali, observei que algumas pessoas do navio jogavam pequenas sacolas com algumas coisas dentro. Depois viemos a saber que se tratavam de ribeirinhos que tinham o hábito de se aproximarem dos navios e barcos que ali passam, afim de receberem donativos dos passageiros. Crianças e mulheres grávidas sensibilizam mais e as canoas onde eles estão são mais favorecidas, recebendo mais donativos. As pessoas que são acostumadas a fazer esse trajeto, levam as sacolas prontas para serem atiradas às canoas. Assim como os ribeirinhos já sabem a hora e dia da passagem dos barcos e navios em suas localidades. Para nós, que não sabiamos desse detalhe da viagem, foi uma verdadeira surpresa. Algumas pessoas que estavam à bordo pensaram até ser um ataque de índios, imagine!
Diante daqueles pensamentos que me ocorreram, citados no início do post. Penso o quanto deve ser importante para aquelas pessoas abrir cada sacola e encontrar ali roupas que nunca poderiam comprar, brinquedos para as crianças, biscoitos e outros produtos inexistentes naquela região.
Vale à pena fazer o percurso Belém/Manaus e viver de perto tanta beleza e tanta emoção. Aproveite e leve aquelas roupas que não servem mais, brinquedos e tudo o que você possa imaginar que possa ser útil àquelas pessoas que vivem tão isoladas e com uma vida tão limitada. Se são felizes? Não sei, mas podemos fazê-las mais felizes ainda!
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