quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Assentadas, Largadas e abandonadas!


      Este, nada mais é do que a continuação de um post publicado em www.acoesquecuram.blogspot.com/, entitulado :'' Onde não existia médico.''
 Rio Gurupí
      O trabalho de Entomologia médica (estuda os insetos vetores de doenças transmitidas ao homem) nos dá a oportunidade de conhecer outras cidades e localidades de nossa região, tudo o que eu queria! Afinal, como poderei falar do que não conheço? A localidade para onde íamos sempre foi a dor de cabeça da Secretaria Estadual de Saúde Pública-4º CRS, no que se refere à  malária. A viagem era para dar continuação no monitoramento e captura de mosquitos vetores da doença e fazer pesquisa larvária. Então, chegamos á Cachoeira do Piriá hora e meia depois de nossa saída da sede do laboratório de entomologia. Eu já conhecia a cidade, percebi logo a evolução do lugar. Antes composto em sua maioria de casas de madeira e sujas pela piçarra. Agora o cenário era outro. Muitas casas boas, prefeitura nova, ruas asfaltadas e etc. Fiquei admirada e pensei:- nada que um bom empenho do gestor não tenha resolvido! Depois do almoço, em um restaurante pequeno mas simpático, continuamos nossa viagem que, segundo meus colegas não seria nada fácil, pois a estrada era de terra e o lugar para onde iríamos era distante. Tudo bem, pelo menos o carro tinha ar condicionado.
Pesquisa Larvária
       Depois de muita estrada, passando por outros povoados, duas horas depois chegamos ao nosso destino: a localidade de Cigana: duas ruas principais, algumas pequenas travessas com poucas casas, uma pequena escola, uma Unidade Saúde da Família (o que é mais estruturado no lugar), luz só nas casas, não há iluminação pública e um total de 198 famílias. Perguntei aos meus colegas o que tinha levado aquelas pessoas a morarem tão longe? Então fui informada que ali era área de assentamento e ainda falaram que      hoje  o lugar está bem melhor do que antes, imagina como seria na época em que as primeiras famílias foram assentadas? Logo me avisaram que água era difícil, mas para nossa sorte na casa onde ficamos tinha um poço de água maravilhosa, que na época em que estamos, de seca, serve várias famílias. Ao lado uma ironia: Uma enorme estrutura que ampara três caixas d'água, de 20.000 l. cada uma! Perguntei logo:- e aí, cadê a água dessas caixas? Adivinhem, Nunca funcionaram! Taí um desperdício de dinheiro público, ao vivo e a cores! Fiquei arrasada! Já tinham levado o motor e outros acessórios e as caixas agora eram depósitos de larvas de vetores de várias doenças, como a dengue e malária. Além de não resolverem a situação da falta de água, ainda deixaram um problema. Bom, percebi logo o quanto o lugar é quente, nossa, um calor insuportável! Claro, causado pelo desmatamento que ainda persiste, embora a localidade esteja ás margens de um belo rio: o Rio Gurupí. Que faz fronteira com o Estado do Maranhâo. Uma informação boa: nossos vizinhos hospedados logo após as caixas d'água são contratados para abrir ''picos'' de reflorestamento. Projeto novo em andamento, que bom!
Projeto de distribuição de água fracassado
      Passamos a semana fazendo nosso trabalho, pegando informações com outros profissionais da saúde que trabalham no lugar e com alguns moradores. Graças á Deus que a malária deu um tempo:  um caso em setembro e outro em outubro. Assim pudemos fazer o mapeamento de algumas áreas que faltavam e visitamos outras localidades.
Escola na localidade de Vila Maranhense
      Eu sempre ouvi falar e vi reportagem sobre assentamentos. Mas senti o que é, só quando conheci essa área. Ali as famílias foram largadas e abandonadas em meio á floresta infestada de mosquitos vetores de malária, sem estrutura alguma. Existem muitas rochas que impossibilitam a abertura de poços. Até hoje sofrem com a questão da água nessa época seca do ano. Algumas famílias se servem do rio Gurupí para lavar suas roupas ou mesmo tomar banho, correndo o risco de ser picado pelo anofelino transmissor da malária. Na atitude de assentar eu via uma conquista feliz dos menos favorecidos, me enganei! Hoje entendo que famílias assentadas são largadas em qualquer lugar sem mesmo um estudo antecipado que indique que a terra é boa para se viver e produzir. Enquanto o governo não tratar o assunto com respeito àqueles que precisam de terra para sobreviver, o mal se voltará ao  próprio governo, que terá que resolver os problemas, frutos da falta de planejamento para famílias assentadas.